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segunda-feira, 29 de abril de 2013

Respeitando o Tempo...

Olá, 
acabo de chegar do aulão do CIEP e hoje tive vontade de escrever algo completamente atípico do que costumo redigir por aqui: o primeiro contato do meu namorado com a capoeira. É atípico pois é muito pessoal, mas, sempre fui adepta da teoria de que qualquer informação agrega à qualquer pessoa. Então...

Mesmo com algum tempo de namoro, o Pedro ainda não havia presenciado nada  de capoeira comigo, nenhuma roda, nenhuma aula, nenhuma música. Tive algumas oportunidades de levá-lo em algumas ocasiões, mas sempre achei que fizesse sentido levá-lo, pela primeira vez, em algo que enchesse os olhos, que fosse minimamente grande, ou um pequeno espetáculo. Imagina, se eu o fizesse acordar às seis da manhã para pegar metrô, baldeação e mais um ônibus para ir ao Jardim América em um domingo de sol, era capaz de ele pegar birra com a minha paixão e não querer ir a mais nada! Por isso achei que o aulão hoje seria um ótimo início. Próximo à sua casa, em um horário agradável e com uma boa comoção de capoeiristas fazendo o seu melhor, ainda mais hoje, em uma pequena memória ao nosso Camisa Roxa.

Quando ele chegou já havia acabado a travessia de floreios, uma das partes que eu queria que ele visse, pois é a que enche mais os olhos leigos. Eu estava bem nervosa, pois aquilo significava muito para mim. Eu iria descobrir finalmente se poderia compartilhar, nem que fosse um pouquinho, um grande amor com o outro! Ou seja, a capoeira com o Pedro. Acho que só capoeiristas poderiam entender o quanto essa relação pode influenciar na vida de alguém.

Começaram alguns jogos de benguela. Eu olhei para ele, ele estava no celular. Mais outros, ele havia sentado. Fui jogar para ver se conseguia prender um pouco do seu olhar e nada. A minha esperança era o São Bento Grande - ele adora ação! Foi quando finalmente o vi bocejar e resolvi acabar de vez com aquilo, estava sendo uma tortura para mim! Dei um beijo nele e falei para ele ir encontrar os amigos, que estavam em um bar por perto, e que já já ia encontrá-lo.
E murchei na hora. Incrível como aquilo me afetou. Meus jogos saíram completamente confusos; agressivos e impensados. Resolvi ficar de fora e extravasar minha energia batendo palma, mas não saía. Eram fracos estalos com respostas de coro mais baixas ainda. 

Ele não tem a sensibilidade tão aguçada quanto a nossa para detectar tamanha emoção na capoeira? Não. Mereço menos ele agora do que merecia antes? Tão pouco. Será que ele pode aprender a gostar de capoeira aos poucos? Não sei. O que acham? É sempre amor à primeira vista? Essas coisas simplesmente acontecem. Não conseguimos, aliás, nem podemos, ser iguais em tudo. Graças a Deus! Mas naquela hora eu simplesmente não conseguia enxergar nenhum lado positivo nisso.


O aulão já estava acabando, estávamos todos assistindo à roda final, quando o vejo retornar e espiar os jogos curiosamente. Muito provável que ele tenha feito isso por mim, para demonstrar que quer estar ao meu lado em momentos como esse, e não por ter se identificado com a capoeira. Mas... obrigada, céus! Há uma esperança! Como não tenho como ilustrar esse post de nenhuma maneira, vai uma foto do aulão. Que, aliás, foi tirada pelo Pedro:


quarta-feira, 24 de abril de 2013

Por dentro da Roda do Mercadinho

Pessoal, primeiramente peço desculpas se não posto com a devida frequência. Mas em meio a faculdade, trabalho, monografia, namoro e a própria capoeira, fica um pouco difícil manter uma certa regularidade por aqui. Tento sempre escrever duas ou três vezes por semana, mas às vezes me complico.

Roda do Mercadinho em 2006 (Lobisomem)
Hoje, por exemplo, estou escrevendo em um intervalinho que pude ter em decorrência da falta de um professor meu. E aproveito para falar de um post que já havia prometido: a Roda do Mercado São José, em Laranjeiras. 
Infelizmente, não posso fazer a pesquisa que eu acho que o assunto merece toda vez que posto, por isso tenho sempre que me limitar ao meu próprio conhecimento. Mas espero que seja do agrado de vocês.

Quem é capoeira sente que aquele não é um simples espaço para roda. Há alguma energia no local, quase mística, que envolve todos, praticantes e curiosos, em uma sincronicidade cativante. Uma hipótese - a qual eu acredito, devo dizer - é a de que, nos tempos do império, era lá a senzala de uma enorme fazenda localizada no Parque Guinle, ali perto. Nos anos 40, Getúlio Vargas (sempre ele!) transformou a área em uma pequena feira, para "abastecer a população com produtos mais baratos durante a guerra", pelas próprias palavras do site institucional do bairro. Tamanho axé deve ser proveniente desse contato tão próximo com os nossos bravos descendentes, pelos quais lutamos até hoje.

Gigi em ação ao comando de Mestre Camisa
Após duas décadas de abandono, o Mercadinho foi revitalizado em 1988, para ser, finalmente, tombado como patrimônio cultural em 1994, após muito esforço dos moradores da área. 
Mas vamos ao que interessa: em 1991 começou a nossa tradição em formar rodas de capoeira por lá, que docemente batizamos de Roda do Mercadinho. Hoje, 22 anos depois, desfrutamos dessa energia todo primeiro sábado do mês, em uma vadiação democrática e animada, sempre finalizada com um belo lanche da Dona Maria.
Iniciantes, graduados e professores; adultos, adolescentes e crianças; Benguela, São Bento Grande, Samba de Roda e Angola; Regionais ou qualquer praticante de outro segmento; brasileiros e gringos. Tudo é sempre bem-vindo nesse espaço que funciona, na minha opinião, como um enorme abraço. Eu mesma, mera corda laranja-amarela, já levei convidados de outros grupos de capoeira, que foram tão bem aceitos quanto em um lar qualquer.
A chamada de Camisa Roxa no Mercadinho
São tantos os que já passaram pelo Mercadinho, que, se cada um deixou uma pontinha do seu bem, pode-se explicar o porquê do alto astral de lá: Camisa, Camisa Roxa, Nagô, Cobra, Morcego, Mestre Medeiros, Nacional... E todos os outros que tenham jogado ou simplesmente batido palma de peito aberto por lá.

Pensei em compartilhar aqui alguns áudios que foram gravados por mim na Roda do Mercadinho, mas acabo de descobrir que o Blogspot não tem essa ferramenta. Fica para a próxima! Deixo aqui então imagens que catei internet adentro.

Se a razão de uma roda fechadinha de capoeiristas é não deixar o axé passar, podemos dizer que isso, as antigas paredes do Mercado São José também fazem muito bem. 

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Boa viagem, Camisa Roxa!

Grão-Mestre Camisa Roxa nos Jogos Europeus de 2013
Sempre acendo incenso no meu quarto na segunda-feira. Mas ontem, quando cheguei em casa, resolvi acender um.
Acendi e sentei no computador para escrever o texto sobre o Esquilo. Publiquei o post com o coração pequenininho e então entrei no Facebook para dar uma última espiada do dia. Foi quando, na pior das ironias, fui surpreendida com uma avalanche de homenagens a mais um que partia. E uma avalanche de sentimentos.

Tentei voltar aqui para escrever, mas não consegui, estava fraca demais. Preferi ir dormir, fazer a minha oração e voltar aqui no dia seguinte, hoje, com a alma mais calma.
Mais uma vez, com o coração pequenininho, venho aqui relatar outro capoeirista que se vai. O nosso sereno Grão-Mestre Camisa Roxa.

Engraçado, ontem enquanto escrevia o texto sobre o Esquilo, coloquei um parágrafo em que dizia que devemos aproveitar ao máximo os momentos que temos com a nossa arte. Pois era horrível ver algum grande capoeirista partir sem ter tido algum mínimo contato com ele, sem ter presenciado um pedaço dessa história. Ontem, fiquei insegura quanto a essa afirmação e apaguei. Hoje, ela se torna mais exata do que nunca. Mas algo é certo, esse blog tem me mostrado o quanto é difícil colocar emoções em palavras. Consigo apenas permear as beiradas.

Não tenho a menor ousadia de fazer uma homenagem àquele que foi considerado o melhor aluno de Mestre Bimba, não tenho esse cacife. Só gostaria de agradecer em nome de todos os capoeiristas, da ABADÁ ou não, novos ou antigos, graduados ou alunos, pela sua passagem pela Terra. Você iniciou uma era na capoeira pós-Bimba e agora cabe a nós continuar.

Espero que o incenso que eu acendi ontem, quase que sem querer, tenha chegado em seu caminho e no conforto do coração do Mestre Camisa e de todos os outros amigos e familiares.
Eu ia terminar o texto com um "Adeus, adeus! Boa viagem!", mas prefiro colocar um "até logo"!
Vá com todos os deuses desse universo imenso que a capoeira abraça!

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Calou seu gunga, nossa viola chora - Esquilo

Esse post deveria ter sido escrito ontem. Mas, como tempo é algo relativo, vamos fingir que ainda estamos em 17 de abril.

Ontem completou dois anos que o professor Esquilo, aos 34 anos, se foi e achei mais do que justo prestar uma homenagem. O Esquilo é para mim um perfeito exemplo de "saudade do que nunca se viveu", sentimento que tanto tenho quando a história é capoeira. Eu só soube da sua existência no dia de seu falecimento, quando o meu professor, após conduzir a aula somente com as suas cantigas, nos contou a triste notícia (sim, estou na capoeira há dois anos e meio somente!).

Depois da aula fui pesquisar um pouco sobre ele. E fui instantaneamente cativada por esse capoeirista completo; jogador, compositor e cantador. Até como pessoa me encantei, mesmo sem tê-lo conhecido, seu sorriso nas fotos deixa transparecer o doce que era.

Até hoje acho difícil encontrar outros jogos de capoeiristas da ABADÁ que me prendam tanto a atenção quanto o do Esquilo me prende. Com um estilo completamente único e característico, até a pessoa mais míope consegue identificá-lo na roda, sempre tão leve e espontâneo.
Esse vídeo é a prova. As imagens são quase indecifráveis, mas você percebe facilmente qual dos jogadores é o professor:





Extremamente original, a identidade do seu jogo se aplica às suas músicas e voz. Basta um verso para percebermos que a música é sua. Basta um iê para sentirmos que é ele cantando.
São inúmeras as músicas dele que eu poderia colocar aqui. Dei até uma olhada nelas, mas foi impossível escolher uma, duas ou três. Por isso, vou colocar duas, de outros dois capoeiristas, que fizeram homenagens póstumas a ele.

Essa me ganha na emoção: Falamansa - Adeus Irmão

Adeus irmão…
Hoje você é poesia
Se tornou aquela estrela
Que você contou um dia

Chegando lá no céu
Jogou angola de mansinho
Logo em seu primeiro jogo
Foi com o Mestre Bigodinho

Quando a roda terminou
Seu Bimba falou dessa maneira

O jogo da vida acabou
Seja bem-vindo capoeira

Recebeu um elogio
Pelas cantigas e cantar
Quando foi ver de quem era
Era o grande Mestre Waldemar

Cada jogo um improviso
Cada rima uma canção
Você foi, mas com certeza
Ficou em nosso coraçao

Sua ginga encantou
Até quem não lhe conheceu
Hoje a capoeira chora

E o berimbau esmoreceu

Já se foi mais um poeta
Mais um bamba de valia
Deus o tenha em bom lugar

Então meu irmão até um dia!


Essa me ganha pela genialidade com que foi construída, usando, em cada estrofe, trechos ou variações das próprias composições do Esquilo: Perninha - A capoeira não esquece

Eu sou um grão de areia ioiô
Que voltava no tempo se pudesse
Contava as estrelas dos céu
De bamba a capoeira não esquece

Cantou as histórias de Lemba na roda
Berimbau tocou foi pra beira do mar

Mas antes avisou seu moço cuidado 
Que faca de ponta quer lhe furar
 

Perguntou de onde vinha aiê
Toda mandinga do mandingueiro 
Já sabia que pra ser capoeira 
Tem de ter dendê ser forte guerreiro

Lá do alto da ladeira canavieiro 

Nunca foi de querer muito ou reclamar
Viu o menino gingando na ribeira
E foi no balanço do mar

Improvisador inspirou tanta gente 

De um golpe avisado não teve esquiva
O corpo responde o que passa na mente
Mas sua alma na roda sempre estará viva



Estou me esforçando para não cair no apelativo da emoção, mas, não queria deixar de compartilhar isso. De todos as partidas que vi no pouco tempo em que estou na capoeira, a do Esquilo é sempre a que mais me entristece. Não sei explicar o porquê.
Nos resta mandar todas as energias para que ele curta em paz a sua roda nas nuvens. Por aqui, não nos falta maneira de eternizarmos esse capoeirista.

terça-feira, 16 de abril de 2013

Meu Encontro Com Mestre Camisa


Antes de mais nada, peço licença a Nestor Capoeira pelo título em que parafraseio a sua série, a qual mencionei dois posts atrás. Permissão concedida, então prosseguindo:

Já havia comentado aqui sobre um tal trabalho, que venho fazendo para a faculdade, sobre Mestre Camisa. É coisa simples, 5 minutinhos de matéria de um perfil de algum "pensador". Leia-se pensador: alguém que tenha algo interessante a dizer, nada a ver com um intelectual. Pode ser tanto um ministro como um motorista de ônibus. E, como boa parte dos trabalhos que me pautam na faculdade eu penso em fazer sobre capoeira (esse blog é um exemplo disso), essa tarefa não fugiu à regra: queria falar sobre o Mestre Camisa, o nosso Mestre.

Honesta e humildemente, não cabe ostentar o trabalho, nem criar expectativas com ele. É apenas uma experiência de três aspirantes a jornalismo que, no final das contas, nem cairá em nosso portfólio. A única coisa que realmente poderia me interessar a falar aqui é sobre o contato que tive com Camisa para realizar esse trabalho.

Após alguns telefonemas - muito nervosos - com o Mestre, consegui marcar uma entrevista com ele em seu habitat natural, o CEMB. Tínhamos certeza de que teria que ser gravado lá, pois a fazenda falava por si só, seria um personagem tão forte (ou quase tão forte) quanto o nosso protagonista. E assim fomos no domingo, 14 de abril. Eu, as duas meninas que formavam o trio comigo, Clara e Mariana, e mais dois amigos-capoeiristas que se animaram com a oportunidade de ter essa proximidade com tamanha inspiração em uma tarde. O graduado Gringo e a Bailarina, que foram tão indispensáveis quanto qualquer outra peça dessa missão! Obrigada!

Pensei em falar no tanto em que aprendi nessas horas com o Mestre Camisa, seja sobre capoeira, seja sobre a vida. Pensei em falar sobre a sua visão de religião e de Deus, que tanto se iguala à minha. Pensei em falar que aprendi mais sobre política nesse encontro do que em muitas aulas na faculdade. Pensei em falar sobre o quanto ele parece com o meu pai quando o assunto é natureza. Pensei em falar sobre o pulo que dei ao passado enquanto ele relatava tantas histórias surpreendentes. Pensei em falar sobre a aula de sociologia e cidadania que ele deu para os cinco presentes. Pensei em falar como aprendi sobre os homens somente ao observar como ele trata os animais. Pensei em falar em como fiquei emocionada quando ele humildemente nos serviu um lanche ao final do papo. Pensei em falar tanta coisa que preferi não falar nada, pois, por mais que tentasse, não conseguiria demonstrar o quanto essa tarde ficou marcada para mim.
Palavras são poucas para agradecer. Axé!

domingo, 14 de abril de 2013

Ele Faz Cafuné - O livro


Ele Não Joga Capoeira, Ele Faz Cafuné
Se Mestre Camisa diz que "a melhor forma de aprendermos capoeira é jogando, a segunda melhor é assistindo, e a terceira é conversando sobre", acrescento aqui uma quarta maneira de se aprender: lendo. Sem querer deixar as músicas de lado.
E engana-se também quem acha que lendo aprende-se só conteúdo. Pode-se melhorar (e muito!) o nosso jogo somente com a leitura. 

Então, foi pensando nisso que resolvi ler um livrinho para postar para vocês. Esse não é o único que li, o único que tenho, nem tampouco o que acho melhor. Mas como é o último que comprei e, por isso, está mais fresco na cuca, vai sobre ele por enquanto:

Ele Não Joga Capoeira, Ele Faz Cafuné é quase um pocket book, com que você pode dar um mergulho na academia de Bimba em uma tarde de leitura. Quem assistiu ao documentário Mestre Bimba - Capoeira Iluminada já conhece Sergio Fachinetti e a história que deu o nome dessa mini-obra. Ex-aluno de Bimba, Sérgio, ganhou o apelido do Mestre devido a sua imensa timidez.
Cafuné, pelo dicionário, é como se fosse uma carícia. E é isso, simples assim, seu jogo é uma carícia, assim como o seu livro. Com muita ternura, em capítulos curtinhos, de três ou quatro páginas, ele descreve pontos da sua vivência e formatura com o Dr Bimba, como o chama vez ou outra.

Para quem ainda não conhece muito sobre a história da capoeira regional, Ele Não Joga Capoeira, Ele Faz Cafuné pode ser uma boa ferramenta de beabá, pois explica a sua origem, seus percalços e também, muito da técnica do jogo.

Cafuné
Para os um pouco mais ingressados, pode ser que não haja novidades no que Cafuné escreve, mas mesmo assim, a leitura é válida. Pois te traz sentimentos e nostalgias do que nunca se viveu, com comentários sobre o cheiro que a academia exalava, ou sobre a roupa que Bimba usava, ornamentada pelo apito pendurado no pescoço.

Um exemplo, ao menos para mim, valeu entender a importância do apelido. Que não, não era somente para a lenda de ser desconhecido entre os policiais. Mestre Bimba acreditava também que era essencial para estimular a criatividade de seus alunos.
Outra novidade agora é de poder compreender o meu professor Morceguinho, que tanto nos multa com sucos e mais sucos quando fazemos algo errado na academia. Entendo agora que nada mais é do que uma herança das raízes da Regional bahiana. Obrigada, professor!

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Meus encontros com...

Nestor e Leopoldina
Zapeando como de costume o site AbeiramarTV, resolvi ler uns ensaios na ala do blog que sempre me despertaram a atenção, mas, por preguiça, pressa ou qualquer outra desculpa da vida moderna, nunca cheguei a ler.

O Mestre Nestor Capoeira, pai de Itapuã, administrador do portal, escreveu há pouco tempo - relativamente - alguns relatos sobre diversos encontros com Mestres que lhe marcaram, de alguma forma, como homem ou capoeirista. Ou melhor dizendo, como homem e capoeirista.

Dentre eles, Leopoldina, seu professor, Waldemar, e até Bimba e Pastinha. Com uns, contatos profundos, com outros, poucas palavras. Mas todos valem igualmente a pena de serem lidos. Descontraídos, emocionantes, e surpreendentemente bem escritos. 

Nestor te envolve em cada história como se fossem revistas em quadrinhos, gostosas e curiosas de devorar. Mais sensível do que o contato com qualquer um dos mitos abordados, é o contato com a capoeira antiga que se revela em cada um dos perfis.

E, por sua vez, mais interessante do que cada um por si só, é conhecer um pouco do Nestor. Que com bom humor te compra com facilidade, assim como comprou Mestres tão antigos e malandros, como é possível perceber nessa série.
Escolhi uma frase em cada um que me despertou mais sensibilidade. Os links são de PDF, quem não quiser baixar, basta clicar em "visualizar" e o procedimento será como o de um site qualquer, em uma nova página. Larguem a preguiça um instantinho e leiam:


Meu encontro com Mestre Leopoldina:
Trecho: "Foi quem me apresentou a "filosofia da malandragem". E fez isso sem fazer força, sem se preocupar em ser "mestre."

Meu encontro com Mestre Pastinha:
Trecho: "Chegue mais, meu filho. O pessoal deve começar a chegar daqui a pouco. Aceita almoçar?"

Meu encontro com Caiçara e Canjiquinha:
Trecho: "Bons tempos" diriam alguns, e Canjiquinha certamente iria concordar; mas se estivesse vivo, com sua alegria de viver, é certo que diria que "o tempo melhor é agora."

Meu encontro com Mestre Waldemar da Liberdade:
Trecho: "Se você não tem cabeça pra pensar, não merece este berimbau."

Meu encontro com Mestre Bimba:
Trecho: "O carioca tá querendo roubar minhas mumunhas com o berimbau!"

Inspiração!
Axé!

sábado, 6 de abril de 2013

Ponto de Vista - São Bento no Mercadinho

Roda do Mercadinho - 06/04
A roda do Mercadinho foi especial hoje - pelo menos para mim. Estou fazendo um trabalho audiovisual sobre o Mestre Camisa para a faculdade. Como um perfil sobre ele e alguns de seus pensamentos. Como precisava de material de apoio, pensei em gravar algumas imagens no Mercado São José.
Aluguei uma câmera PD e tive a super ideia de fazer umas tomadas com a GoPro do meu namorado, aquele aparato da moda normalmente usado para filmagens de esportes radicais.

A roda, hoje ministrada pela Professora Gigi, foi cheia, mesmo com o sol esquentando um perfeito sábado de praia. Em meio a adultos e crianças, graduados e alunos, começamos com miúdos jogos de benguela, passando para a nossa querida Angola, na cantoria de ninguém menos do que Boa Voz. Grande destaque para o jogo entre o Instrutor Fantasma e a própria comandante da vadiação. Belíssimo exemplo de brincadeira com ponderação, humildade, mas, é claro, muita malícia e bom humor.
Enquanto os jogos rolavam, seguidos pelo São Bento ligeiro, eu e as duas outras meninas do meu grupo, registrávamos o que rolava com a PD, nos restringindo a nossa técnica de filmagem.

Ao fim, pedi a ajuda do Fantasma para que eu conseguisse gravar algo com a GoPro, que estava acoplada em um capacete específico para isso. Para a minha surpresa, a sugestão foi muito bem recebida. Gigi pediu para que eu explicasse a todos o meu trabalho e as minhas intenções e, por fim, recomeçou a roda para que concluíssemos a nossa ideia inicial.

Quando o mini-perfil-documentário-reportagem sobre o Mestre ficar pronto é claro que eu postarei o resultado aqui para vocês verem. Mas, por enquanto, fiquem com um gostinho de hoje. Um pouco das imagens do formato POV - Point Of View -ou, no português, Ponto de Vista. Ficou, no mínimo, interessante. A filmagem nos dá a perspectiva de quem joga. Ah! A câmera ficou na cabeça do resistente Javali:





Agradeço a atenção, a paciência e o carinho de todos presentes na roda hoje! Esse tipo de interação e troca só dá mais vontade de se dedicar a essa arte!

Ah, e fico devendo um post histórico sobre a Roda Do Mercadinho São José ainda, aguardem!

terça-feira, 2 de abril de 2013

O que é a capoeira?

Mestre Pastinha
Já que nunca em toda a minha vida, nem com toda a técnica linguística que a faculdade de jornalismo me deu, eu conseguiria pôr em palavras o que é a capoeira, optei por postar uma composição de outrém.

Uma das minhas músicas favoritas da capoeira não é da ABADÁ, acho que é do grupo Muzenza. Não é São Bento, nem benguela. É uma Angola linda, que transmite nas simplicidades dos seus versos e na complexidade dos seus sentimentos, muito do que eu sinto por essa arte... Ou talvez eu ainda esteja muito tocada pelo encontro com João Grande.

Enquanto fico devendo para vocês um post sobre o documentário "Pastinha! Uma Vida Pela Capoeira", a pedidos do meu Professor Morceguinho, deixo-os com essa linda cantiga, em que grifei meus trechos favoritos:




Uma vez, perguntei a Seu Pastinha
O que era a capoeira
E ele, mestre velho respeitado,
Ficou um tempo calado,
Revirando a sua alma
Depois respondeu com calma,
Em forma de ladainha:
A capoeira
É um jogo, é um brinquedo,
É se respeitar o medo,
É dosar bem a coragem

É uma luta,
É manha de mandingueiro,
É o vento no veleiro,
Um lamento na senzala
É um berimbau bem tocado,
É um corpo arrepiado,
Um sorriso de menininho

A capoeira
É o vôo de um passarinho,
O bote da cobra coral...
Sentir na boca
Todo o gosto do perigo,
É sorrir para o inimigo
E apertar a sua mão

A capoeira
É o grito de Zumbi
Ecoando no quilombo,
É se levantar do tombo
Antes de chegar ao chão

É o ódio,
É a esperança que nasce,
Um tapa sutil na face
Que foi arder no coração
Enfim,
É aceitar o desafio
Com vontade de lutar
A capoeira
É um barco pequenino
Solto nas ondas do mar...

(coro)

Escute: